A CURITIBA QUE ENCANTAVA
- Divagando & Katilografando
- Longe se vai o ano de 1983, era mês de maio. A Curitiba tão fria
- quanto perfumada e encantadora, ao mesmo tempo indiferente aos
- insuspeitos olhares daqueles que a cobiçavam pelo primor e o frescor
- abundante das suas praças, ruas, avenidas e parques, belos prédios,
- bela e encantadora gente. Quem não cobiçava vir morar em
- Curitiba?..
- Sempre há as exceções, de fato, aquele que não foi 4echado pelo
- cupido do 4erte e do amor curitibano, sob as desculpas de que o povo
- curitibano é frio, que a cidade é fria por demais, que conviver com as
- baixíssimas temperaturas – àquela época fazia muito frio, e havia
- quem dissesse que já não fazia mais tanto frio – era-lhe impossível
- quedar-se aos apelos; aliás, pode ser que tenha de algum modo feito
- um bem a Curitiba, por não ter vindo aqui morar.
- A propaganda de cidade modêlo do país, encetada pelo então
- governo paranaense fez daquela linda e exuberante debutante <car
- soberba, com indisfarçavel arrogância. Aquela Cidade que me dera
- uma lição de cidadania lá em maio de 1983 já não mais existe,
- infelizmente – desembarquei aqui a passeio em 27 de abril de 1983.
- Quando aqui estive naquelas férias de maio de 1983, hospedei-me na
- casa do meu primo Nelson - o farmaceutico da Farmácia New Farma -
- que morava no Edifício Grão Pará, que <ca na esquina da Rua Dr.
- Pedrosa com a Praça Rui Barbosa, dali, estava sempre prescrutando
- as redondezas. Sem me descuidar das lições de asseio da Cidade,
- estava eu sentado em uma cadeira de engraxate na Praça Rui
- Barbosa, nas imediações onde hoje está o tubo de desembarque e
- embarque do biarticulado do Pinheirinho/Rui Barbosa, resolvi quase
- no <nal do trabalho do engraxate, contrariando o clima, que, embora
- o sol brilhasse, fazia um frio cortante, comprar do sorveteiro em seu
- carrinho quase ao lado do engraxate, um picolé esquimó. Sorvia
- aquela delícia indiferente ao engraxate, quando ele deu por
- encerrada a sua tarefa; paguei-lhe e fui em direção à Alameda Cabral.
- Quando eu já estava prestes a cruzar a Rua Emiliano Perneta, o meu
- picolé Esquimó acabou, incontinenti, em minha mão juntei palito e o
- papel úmido amassei-o e joguei ao chão. De repente, não sei de onde
- saiu, apareceu uma senhora, gari, que parecia estar me seguindo,
- prevendo o que eu ia cometer aquele desatino, ao que ela deu uma
- volta à minha frente, com uma pazinha e uma vassoura varreu o lixo
- que eu havia descartado, e, dando não mais do que quatro ou talvez
- cinco passos depositou-o em uma lixeira à minha frente.
- Desnecessário se faz dizer que eu queria procurar um buraco para me
- en<ar lá dentro, tal foi a vergonha que a acintosa atitude daquela
- senhora e gari me colocara dentro da civilidade curitibana daquele
- saudoso ano de 1983.
- Saindo do local da minha vergonha pública – não sei quantos mais
- viram o meu desatino além daquela gari – entrei em um
- estabelecimento comercial e comprei uma caixa de lencinhos, para
- que, sempre que eu precisasse cuspir, deles fazer uso e, claro
- descartando-os em uma lixeira sempre à disposição dos cidadãos
- curitibanos e visitantes bem educados.
- Pois muito bem, hoje e há dezenove anos sou cidadão curitibano,
- migrei para aqui no ano de 1997 transferido pelo Banco do Brasil, de
- onde já me desliguei por aposentadoria.
- A minha (permita-me chamá-la minha) linda debutante cresceu, está
- robusta, é quase uma senhora. Os apelos daquela propaganda que a
- expôs aos olhos de pessoas dos mais diversos rincões gerou
- resultados nada auspiciosos àquela linda moça; hoje Ela tem maus
- hábitos e exala mau hálito, que não são congênitos, foram adquiridos
- pela convivência perniciosa com aqueles maus cidadãos que para
- aqui migraram e que não se despojaram dos seus maus hábitos
- herdados de seu berço natal e de sua má formação.
- A sujeira em nossa Curitiba pode ser percebida nas ruas, avenidas,
- praças, jardins e seus canteiros mau cuidados. Os terrenos baldios, os
- prédios abandonados, os parques igualmente mau cuidados são, por
- conseguinte, geradores de focos e criadouros de insetos e outros
- bichos, os rios servindo de esgotos a céu aberto, móveis e utensílios
- descartados às suas margens.
- En<m, toda essa sujeira é resultado da falta de educação dos maus
- cidadãos que precisam de lições urgentes de limpeza e de cidadania.
- A minha rua é meu pedaço de cidade, a frente da minha casa – inclui
- a calçada – é extensão da minha morada, cuidar do meu espaço é
- uma obrigação cotidiana.
- O poder constituído, por sua Secretaria Municipal de Limpeza Pública,
- não precisa gastar fortunas com limpeza pública em nossa cidade. Ao
- contrário, deveria o poder público gastar com mais Educação. Uma
- vez educado o cidadão, não se gastará dinheiro com saúde e nem
- tanto com limpeza pública, pois cidade limpa é sinônimo de povo
- civilizado, partindo dessa premissa, Curitiba um dia já foi civilizada
- com um povo altamente civilizado.
- Como diz um velho adágio popular: “EM ROMA, SEJA COMO OS
- ROMANOS”.
- Nota sobre o autor: Francisco Silva Filho é baiano de
- Vitória da Conquista, é funcionário aposentado do Banco
- do Brasil. Hoje atua na pro<ssão de advogado, aliás,
- pro<ssão esta que, por opção o fez antecipar a sua
- aposentadoria junto ao BB.
- Curitiba – Janeiro/2016
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